quarta-feira, 30 de junho de 2010

Fatos da vida real #3 (ou Uma manhã no banco).

Vamos combinar: banco é uma coisa muito irritante. Não acham?

Primeito ato:
Chego toda solícita às 9h50 da manhã, pego uma fila gigante pra entrar no recinto e, mesmo depois de já ter colocado os meus pertences metálicos e/ou magnéticos no guichê, sou parada na porta. Tiro todo o conteúdo da bolsa, continuo parada na porta. Coloco a bolsa no guarda-volumes e, surpresa!, ainda parada na porta. O problema? Minha jaqueta, que tem rebites na gola, estava parando o detector. Detalhe que, fora a irritação causada pelo fato do segurança ter me tratado como terrorista, ainda tive que voltar pro final da fila nas três vezes.

Segundo ato:
Espero minha vez. Sou chamada para o atendimento - era o número 11 -  porém, quando já sentei na cadeira e apresentei os documentos necessários, a moça do número 10 aparece e, pasmem, sou convidada a levantar para que a idiota - que só imagino que deveria estar em outro planeta, porque foi chamada três vezes - seja atendida antes de mim (!!!).

Terceiro ato ou Clímax:
Não bastasse o tratamento anti-terrorismo e educação de jumento à qual fui submetida, tive minha terceira surpresinha na saída. Como dito no primeiro ato, tive que deixar minha bolsa no guarda-volumes. Só que como as chaves do guarda-volumes ficam com a estagiária e não com o dono dos perteces (?), tive que ir atrás da fulana pra que ela pudesse abrir pra mim. Achada a mocinha, pedi com educação que precisava que ela abrisse o guarda-volumes. Ela disse que 'já vou'. Passei na porta giratória e me postei ao lado do armário, imaginando que seria seguida por ela. Viro pra trás e ninguém. Agardo quase dez minutos e ninguém. Chamo o segurança do outro lado do vidro e ninguém. Entrei de volta, chamei a amiga de volta e ela, que devia ser parente do cara que me atendeu (jumenta idem), me responde que 'EU NÃO POSSO AGORA!!!'. Sim, as letras garrafais refletem o tom de voz dela. Detalhe que #1: nesse momento, ela estava na duríssima função de retirar as senhas para os clientes - função esta que, de tão sigilosa e complicada que é, jamais poderá ser desempenha pelo próprio cliente! Repito: jamais! E #2: mesmo eu tendo demonstrado minha profunda indignação ao perguntar quantas pessoas ela ia atender antes de me ajudar, ela continuou na função de desempenhar o serviço top secret dela ao invés de me acompanhar.
Do lado de fora já, mais uns cinco minutos de espera passados, perdi o controle. Porque claro, não basta ser cliente. Não basta pagar impostos, trabalhar e todas essas coisas. Negócio é ser tratada mal pelo serviço que você contribui para sustentar. Levantei a voz e chamei estagiária, funcionário e segurança de incompetentes.
Não resolvi absolutamente nada no banco porque o meu cadastro pro fundo de garantia estava errado, mas saí de lá com a alma lavada!

domingo, 27 de junho de 2010

Para Você (Ou Sobre a Felicidade)

Talvez eu nunca tenha aprendido a felicidade. E se a aprendi, talvez a tenha esquecido. E naqueles momentos puramente alegres da minha vida, me sinto completamente nua e desprotegida – com tanto medo de sentir que a única coisa que tenho a fazer é chorar. Pois, afinal, como não chorar diante desse pequeno milagre que é a felicidade verdadeira? E a aproximação do fim dessa felicidade – não, a felicidade verdadeira não pode ser prolongada além daquilo que ela quer ser – traz uma angústia tão forte que tudo o que queremos é compartilhar nossa mente com outro alguém. E esse ato, muitas vezes confuso e mal sucedido, é nada mais do que a nossa intensa vontade de tentar prolongar aquele momento que já sabemos quase acabado e, nessa ânsia de fazer a felicidade mais longa do que ela quer ser, acabamos por perdê-la. 
Após a última gota da felicidade real, às vezes nada mais pode ser feito se não calar-se. Porque nada do que será dito irá fazer jus àquele momento tão singelo em que dois corpos, ainda quentes e ofegantes, se abraçam na madrugada e, respirando o mesmo ar um do outro, aquelas duas almas admitem-se frágeis e medrosas – e, quando muito, muito felizes – arriscam dizer palavras que, em qualquer outro momento, passariam caladas pela mente de ambos.
Pois é quando uma felicidade assim atinge alguém que ela enche de coragem até o mais tímido dos vivos. E sem cautela, mesmo sabendo do teu medo de amar, ele irá dizer que gosta de você. E na urgência daquele momento, tudo se tornará uma verdade que impera. E essa verdade vai te fazer buscar vorazmente por aquele momento de volta – embora você bem saiba que a felicidade verdadeira jamais acontece duas vezes da mesma forma. Numa tentativa vã de imitar aquele sentimento, você vai buscar novas madrugadas. Mas a verdade, a verdadeira verdade dessa felicidade é que só será madrugada de novo nos braços dele.

sábado, 12 de junho de 2010

A Porta

Abriu a porta e fechou bem rápido. Tão rápido quanto sua memória conseguiu alertá-la das conseqüências de abrir aquela porta. Ficou imóvel segurando o trinco pelo lado de dentro, com a respiração ofegante e o coração batendo em arritmia. Não sabia há quanto tempo estava lá, mas imaginava que não poderia ser muito, afinal, o lado de fora continuava quieto. Apenas o barulho do motor do carro ligado. E enquanto o tempo não se esvaía por completo (teria ele notado que ela tinha aberto a porta?), Vitória apenas pensou.
E não era um pensamento corriqueiro – como uma ponderação quanto à escolha do batom – era um pensamento confuso e indeciso, pois ela queria mesmo era saber se deveria abrir a porta. Afinal, era aquele pedaço de madeira maciça que a separava da realidade. Ao abrir a porta, eles se olhariam e a presença daqueles dois corpos naquele momento seria suficiente para que nascesse uma paixão violenta e desorientadora. E nada mais seria igual. Nem o viço de sua pele, seu andar delicado ou o seu sorriso torto. Nada restaria intacto como antes. E todos aqueles detalhes que ela odiava sobre ele seriam as únicas coisas que ela conseguiria lembrar por muito tempo.
Sentiu como se tivesse que fazer uma ligação importante, em que rezava para o interlocutor nunca atender para que pudesse se safar do fardo. Mas este era um fardo completamente diferente. Pois, mesmo sendo sério e pesado, aquele seria um peso do qual se tem orgulho de carregar.
E naqueles segundos, Vitória ponderou sobre o que tinha acontecido até agora. E como tinha chegado ali. Lembrou-se de Guilherme, seu antigo eterno amor, e de como havia prometido ser fiel ao sentimento que nutriu por ele, mas se sentiu traída ao perceber que nunca seria recíproco. Pensou daí em como este homem que esperava do lado de fora ficava calmo diante da sua histeria e de como ele aceitava sua dualidade com prazer. Pensou no futuro e sentiu-se serena.
Abrir aquela porta dava a ela mais uma (última) chance para um novo amor. Poderia fazê-lo rápido ou devagar, mas abrir era inevitável. Pois tudo se armou para aquele momento e, agora, seria muita covardia de Vitória desistir. E ela não queria ser covarde. Já tinha sido covarde o suficiente para uma vida inteira e sabia do gosto amargo que aquilo tinha.
Escutou um barulho de longe e, ainda que distante, percebeu que lembrava muito o som de uma buzina. Apavorou-se ao ver que ainda estava parada do lado de dentro, com as mãos sobre o trinco da porta. Outro som que lembrava uma buzina. Vitória pensou que deveria se apressar. Esticou a mão esquerda e pegou as chaves que descansavam em cima do aparador da sala. Decidiu que iria abrir a porta devagar, mas que o receberia com um sorriso.